domingo, 29 de maio de 2011

Amar


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
                                                                                   Carlos Drummond de Andrade

2 comentários:

  1. Um brinde aos nossos grandes poetas brasileiros...
    DRUMOND é MAGNO em seus poemas. Falar do AMOR de forma tão simples e ao mesmo tempo imprimindo seriedade e ternura, confere ao texto uma exuberância, ao tocar os nossos sentidos.
    MAGNO DRUMOND, MAGNAS FOTOGRAIAS, MAGNO OLHAR QUE ATRAVESSA UMA LENTE E OCUPA LUGARES PRECISOS EM ESPAÇOS INFORMAIS.

    Parabéns !
    Com carinho, TITIA NETE.

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  2. Parabéns pelo seu blog!
    Fico muito feliz em saber que a cada dia,vc vem se descobrindo cada vez mais como um verdadeiro amante da poesia.Já andei lendo algumas de sua autoria,gostei muito,vc tem talento,suas palavras tem vida.Quando se trata de amor já dizia Cecília Meireles....

    De longe te hei de amar- da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância.

    De sua amiga de hoje e de sempre.
    s.s

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